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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O ARROZ-DE-CARRETEIRO DO RIO GRANDE DO SUL!

Cruzadas, pousadas, estrelas, luar; fogo de chão, chimarrão, ração. Rodar, devagar. Tempo, lento. Nos pousos, o arroz-de-carreteiro. Mantas de charque e cereal: mantimentos preservados. Herança culinária regional; patrimônio cultural regionalista-tradicional! Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas, nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado, por certo, nisso inspirado, o xiru velho campeiro te batizou de "Carreteiro", meu velho arroz com guisado. Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual: é charque, arroz, graxa, sal; é água pura em quantidade. Meta fogo de verdade, na panela cascurrenta. Alho, cebola ou pimenta, isso conforme a vontade. Não tem luxo, é tudo simples, pra fazer um carreteiro. Se fica algum "marinheiro", de vereda vem à tona. Bote, se houver, manjerona, que dá um gostito melhor, tapiando o amargo do suor que, às vezes, vem da carona. Pois em cima desse traste, de uso tão abarbarado, é onde se corta o guisado, ligeirito, com destreza. Prato rude, com certeza, mas quando ferve em voz rouca, deixa com água na boca a mais dengosa princesa. Ah! Que saudades eu tenho dos tempos em que tropeava, quando de volta me apeava num fogão, rumbeando o cheiro. E por ali, tarimbeiro, cansado de bater casco, me esquecia do churrasco, saboreando um carreteiro. Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto, na falta de outro pretexto, indagando algum atalho, mas sempre, ao ver o borralho, onde a panela fervia, eu cá comigo dizia: - chegou de passar trabalho! Por isso, meu prato xucro, eu me paro acabrunhado ao te ver falsificado na cozinha do povoeiro, desvirtuado, por dinheiro, à tradição gauchesca: guisado de carne fresca não é arroz-de-carreteiro. Hoje te matam a míngua, em palácio e restaurante, mas não há quem te suplante, nem que o mundo se derreta; se és feito em panela preta, servido em prato de lata, bombeando a lua de prata sob a quincha da carreta! Por isso, quando eu chegar n’algum fogão do além-vida, se lá não houver comida já pedi a Deus, por consolo, que junto ao fogão crioulo, quando for escurecendo, meu mate-amargo sorvendo, a cavalo n’algum tronco, escute ao menos o ronco de um "Carreteiro" fervendo! (Arroz de Carreteiro, de Jayme Caetano Braun)
FONTE:http://www.bombachalarga.org/

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