A Faca foi um dos temas do Desfile Farroupilha de 2005, no Estado do Rio Grande do Sul. Sobre ela Antonio Augusto Fagundes assim manifestou-se: “A faca é um instrumento de trabalho e luta, talher e arma. Existe em todos os povos. A nossa faca campeira é flamenga, veio do país de Flandres, com posição garantida na cintura do gaúcho, mas na parte de trás, ao contrário de todos os povos que usam facas. A faca carneou e cortou churrasco. E quantas vezes, atada com tentos na ponta de uma taquara, não virou lança de guerra, rabiscando a história do Rio Grande nas páginas verdes das coxilhas? Facas, facões, adagas, espadas e lanças, as armas brancas que se tingiam de rubro nos estreveros”. Oiga-le-tê! E continuando com a divulgação do estudo de Paixão Côrtes sobre essa arma branca do gaúcho, o sítio Bombacha Larga publica, hoje, a Parte III da matéria, cujo teor traz outras informações históricas, finalizada com um poema do grande poeta Jayme Caetano Braun. Assim nos conta o grande folclorista Paixão Côrtes: “Faca famosa de outrora” - Dentre elas destacamos uma, integrada até mesmo hoje, no folclore gauchesco: "a coqueiro". Não era fabricada na cidade de Pelotas, como muitos pensam, mais sim importada pela firma Scholberg, cuja sede comercial estava em Liége, Bélgica. A referida firma, com filiais em Montevidéu, sob o nome de Broqua & Scholberg, e na cidade de Rosário na Argentina, estabeleceu em Pelotas, no ano de 1850, uma outra filial, sob a razão comercial Joucia, Scholberg & Silva. Como sócios faziam parte, além de pelotenses, o francês Leopoldo Joucia, vice-cônsul da França (ou pessoa representativa daquele governo) e que também estava ligado ao comércio de famosos vinhos franceses. Mais tarde outro gaulês incorporou-se à firma: Armand Gadet. Mas a firma Scholberg pelotense era especializada na importação de armas, metais finos, talheres, cutelaria fina, ferragens, apetrechos de caça, munições, artigos de cristofel, quinquilharias afora, peças, que no decorrer de seu desenvolvimento comercial foram importantes fornecedores e das quais realizamos precioso levantamento, inclusive fotográfico com slides e cujos estudos daremos divulgação oportunamente. Esta firma, na grande parte de seus artigos, especialmente os de "metal branco garantido", traziam gravados além desses dizeres, a insígnia de um pé de coqueiro ou uma estrela de cinco pontas. As facas vinham da Bélgica quase prontas recebendo aqui a postura do cabo e bainha. Dentro de vários tipos dos catálogos que Jouela, Scholberg & Silva possuíam, o gaúcho dava preferência à marca do "coqueiro" e desta a "coqueiro deitado", pois era um "ferro branco para qualquer lida"... Esta marca aparecia junto ao cabo, colocada ao longo da lâmina (no comprimento) paralelo ao gume. Existia também o "coqueiro em pé", em que o mesmo ficava com a base virada para o fio, ou melhor, na largura da lâmina. O curioso é que em frente da própria firma — Andrades Neves, 651, em Pelotas, existia um pé de coqueiro, além de ver-se a título de propaganda, presa à distância da parede da referida casa, uma enorme faca colocada paralelamente a uma não menor espingarda de caça. Não sei se o coqueiro ali visto já existia na via pública ou foi plantado posteriormente pelos fundadores da firma. Teria o mesmo motivado o nome da marca? Ou ainda servido de inspiração ou aproveitamento para que o nome do famoso aço "coqueiril", do qual as facas erem confeccionadas, fosse auditivamente associada ao coqueiro, pelo nosso gaúcho do campo, para maiores efeitos comerciais e publicitários, perfeitamente compreensível na época. Mas a verdade é que embora a firma tivesse cerrado suas portas em 1936, ainda hoje, na esquina defronte, onde outrora se transferira — atualmente ocupada pela Casa Alegre —, encontra-se um pé de coqueiro que, ferindo o plano urbanistíco do centro da Princesa do Sul, ainda é conservado como tradição na cidade, juntamente com outro existente na frente do colégio Gonzaga. Atualmente, quem tem a felicidade de possuir uma faca "coqueiro", a guarda como verdadeira jóia gauchesca. Talvez por isso o brilhante poeta chucro do pago Jayme Caetano Braun, dedicou-lhe este poema: ‘Faca coqueiro, cabo de madeira branca e a folha de palmo e meio. Esta faca que palmeio, sovando uma palha buena, larga, assim como novena, nas festanças do Divino, foi presente do Galdino, filho de Dona Pequena! Na prancha meio azulada, deste regalo campeiro, está gravado um coqueiro, assim como um distintivo, que me faz lembrar, altivo, o charrua melenudo, bombeando longe, sisudo, o velho solo nativo! É nesse ferro crioulo que o meu fôlego embacia a cancha reta bravia por onde o fumo se espalha; com ele eu ajeito a palha, longueio, e, aparo crina e a barba, pra ver a china, quando não tenho navalha! Quando corto meu churrasco deixo branqueando o espeto e se na encrenca dos meio não sobre garrafa inteiro pois este ferro campeiro, de ponta como de prancha, tem mania de abrir cancha no costilhar do parceiro! Por isso é que ao te palmear, sovando a palha de milho, eu sinto, ó rude utensílio, que muito primeiro que eu o guasca já te benzeu, quando num berro de touro, junto ao "bendito" de couro, nalgum rival te embebeu! E ao te arrancar da bainha, de ponteira reforçada, evoco a rudez passada de teu áspero trajeto, quando o xiru analfabeto, contigo de companheira, nas andanças da fronteira lonqueava o nosso dialeto! Traste mil vezes relíquia, por ser presente de amigo: hei de levar-te comigo sempre ao alcance do braço; e acolherar no teu aço o presente e o passado, até que pranche enredado por algum "seio de laço"! E fica certo, Galdino, ao te agradecer de novo, que no singelo retovo do meu gauderiar sem Norte, esta faca enquanto corte, até os últimos momentos, há de estar lonqueando os tentos da nossa amizade forte!' "! ( Fonte: Côrtes, J. C. Paixão. "Gaúchos de faca na bota")...
Tema retirado do site:http://www.bombachalarga.org/
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